quinta-feira, 31 de julho de 2014

Outros Tempos



Ouve um tempo, perdido no tempo
Em que o tempo tinha mais encanto
Os cheiros eram mais intensos
Os sorrisos, mais verdadeiros.
Era o tempo das cartas
Das folhas perfumadas, coloridas
Dos envelopes que deslizavam
Na sacola de couro gasta do carteiro.
O tempo dos eléctricos
Que navegavam pela cidade
Com crianças penduradas
Tal e qual andorinhas no beiral.
Era o tempo dos meus avós
Que foi passando pelos meus pais
Aquele tempo que eu ainda vivi
Na simplicidade desse tempo, fui feliz!
(Gaspar Oliveira)

Decomposição




Decompõem-se as pétalas na terra
Das rosas que morrem lentamente
No jardim descuidado, abandonado
Escondido entre o betão da cidade.

Este jardim que outrora brotava vida
Recanto escondido dos namorados
Casa dos cisnes que deslizavam
Nas águas cristalinas do lago.

Morrem as rosas lentamente
Sufocadas pelas ervas errantes
Num verde sem esperança
Neste jardim, que já viu sorrir crianças.
(Gaspar Oliveira)

terça-feira, 29 de julho de 2014

Cruel Silêncio





O ruído do teu silêncio
Avassala o meu pensar
Sou um barco a deriva
No silêncio do teu mar.

Esse teu silêncio atroz
Fustiga-me lentamente
Levando-me a loucura
Tortura a minha mente.

O silêncio é cruel
É uma camisa-de-forças
Restringe os movimentos
Amordaça o meu pensar.

Mas são tantas as palavras
Que escuto no teu silêncio
Parecem gritos de revolta
Transmitidas pelo teu olhar.

O silêncio é cruel
Mais cruel é o teu olhar
Quando fechas os teus olhos
Apenas fica o teu respirar.
(Gaspar Oliveira)


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Hoje




Hoje vou contigo
Vamos passear
De mãozinha dada
Vamos ver o mar

Olho-te nos olhos
Sorris para mim
Peço-te um beijo
Tu dizes que sim

Um beijo gostoso
Beijinho molhado
Um beijo atrevido
Beijinho salgado

Hoje vou contigo
Vamos ver o mar
Sentados na areia
Eu vou-te beijar

Um beijo gostoso
Beijinho molhado
Um beijo atrevido
Beijinho salgado

Hoje vou contigo
Vamos passear
Ver o pôr-do-sol
A lua a acordar

Sentados na areia
Vamos namorar
A pele molhada
Salgada do mar

Hoje vou contigo
Vamos passear
De mãozinha dada
Vamos ver o mar
(Gaspar Oliveira)

Maria II



Maria voltou do Brasil
Não se zangou com a tia
Mas deixou por lá o Zé
Que virou garçom num café.
Maria tinha saudades de Portugal
Mal aterrou na Portela
Veio logo a janela
Sentir a brisa do Tejo.
Maria estava bronzeada
Tal e qual uma sambista
Sua pele bem perfumada
Sorria com muita alegria.
Maria não esqueceu
O amor que aqui deixou
Perdeu todo o orgulho
Para o seu amor ligou.
Falaram durante horas
Marcaram um encontro em Belém
Maria confidenciou
Que o Zé, era nome de ninguém.
O Gastão ficou contente
Pegou Maria pela mão
Foram juntos para a Caparica
De baixo de uma Capa Rica.
Maria e o Gastão, fizeram a reconciliação
Nessa noite foram ao Barbas
Saborear uma deliciosa refeição
Tiveram direito a fotos, como recordação.
Gastão casou com Maria
Numa quinta para os lados da Nazaré
O padrinho foi o Sebastião
A madrinha filha do irmão.
Maria estava contente
Gastão pulava de alegria
Mas foi no 206 nessa noite
Que começou a história de Maria.
(Gaspar Oliveira)

domingo, 13 de julho de 2014

Inspiração

Uma garrafa de gin
Um cigarro na mão
Papel na secretaria
Falta-me a inspiração.

A noite vai se diluindo
O dia quase a nascer
A lua está com sono
O sol vai aparecer

Não consigo escrever
Fico horas a pensar
Sou um barco a deriva
O tinteiro a secar

Abro a janela devagar
Cega-me um raio de sol
Há vida por todo lado
Estou preso no passado

Já nem sei se estou vivo
Se tudo isto é imaginação
A janela está aberta
Voou a minha inspiração.
(Gaspar Oliveira)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Imaginação



Sem nunca te ter tocado
Beijei-te com o meu olhar
Acariciei o teu corpo, amei-te
Com palavras te escrevia
Em folhas soltas perfumadas
Da essência da tua pele.

Descrevi-te sem te conhecer
Pintei o teu rosto, numa tela
Imortalizei-te numa escultura
Amei-te nos meus sonhos
Acordei com o teu cantar.

Serás tu apenas imaginação
Da minha mente cansada
Que nos sonhos te procura
Já que na realidade
Nunca te consegui encontrar.
(Gaspar Oliveira)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Palavras



Soltam-se palavras
Muitas vezes sem razão
Palavras que ferem a alma
Permanecem no coração.

Palavras traiçoeiras
Com vários significados
Conjugadas com raiva
São palavras malvadas

Palavras também matam
São como punhais afiados
Dilaceram a nossa mente
Apoderam-se do coração

Palavras camufladas
Escondidas por sorrisos
Muitas vezes são molhadas
Parecendo realidade.
(Gaspar Oliveira)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Espelho



Olho para o espelho
Só vejo o teu rosto
O teu olhar
Que me enfeitiçou
Hoje sozinho
Sem o teu carinho
Sem os beijos que um dia, eu te dei.

Será que tudo foi ilusão
Quando me dizias
Meu amor, minha paixão
Se foram só palavras
Eu não quero acreditar
Contigo partilhei, o meu coração.

Olho para o espelho
Só te vejo a ti
Há um vazio dentro de mim
Já não sei quem sou
Não me reconheço mais
Preciso dos teus carinhos
Dos teus beijos de algo mais

Olho para o espelho
Só te vejo a ti
Querendo-te sempre
Junto a mim
O meu coração, deixou de bater
Contigo morri
No dia em que deixei de te ver.

Olho para o espelho
Só te vejo a ti
Mas é a noite, que te vejo sorrir
És a estrela que brilha
Que alimenta o meu viver
Os anos passam e eu, só te vejo a ti
(Gaspar Oliveira)

sábado, 5 de julho de 2014

Quando eu Morrer




Quando eu morrer
Lágrimas, não quero que chorem
Flores, só mesmo nos jardins
Se não as tive na vida
Não as quero num sono sem fim

Quando eu morrer
Que o meu caixão seja simples
Apenas com uma quadra
Que não seja de saudade
Muito menos de ilusão.

Quando eu morrer
Que da terra que me cobre
Nascem poemas de amor
Em pétalas de rosas vermelhas
Rosas essas que sempre amei.

Quando eu morrer
Deixem-se lamechices
Vão é comer e beber
Cantem, dancem com alegria
Que era o que eu fazia
Porque agora, não sou ninguém.
(Gaspar Oliveira)