quinta-feira, 24 de abril de 2014

Tudo




Alimenta-me com os teus beijos
Afaga-me com as tuas mãos
Delicia-me com o teu olhar
Silencia-me com o teu coração
Provoca-me com a tua dança
Seduz-me com o teu cantar
Embriaga-me com o teu cheiro
Encanta-me com o teu respirar
Conquista-me com o teu amor
Liberta-me de todas as dores
Enfeitiça-me com os teus poemas
Faz de mim o teu refém.
(Gaspar Oliveira)

Bisturi




Com um bisturi na mão
Tal e qual um cirurgião
Cortam as asas ao povo
Neste país de corrupção.
Andamos todos enganados
Com tanta demagogia
Que chegamos a acreditar
Que isto vai mudar um dia.
Enganem-se meus amigos
Quem vê no lobo um cordeiro
O lobo está sempre faminto
Roubam-nos o ano inteiro.
Ovelhas de um rebanho
Com pastores de várias cores
Voam abutres em bandos
Alguns chamados de doutores.
Com o bisturi na mão
Fazem cortes de precisão
Alimentam uma máquina
Morre o pobre na ilusão
Necrófagos sem piedade
Vestidos sempre a rigor
Carcereiros da liberdade
Neste país de doutores.
(Gaspar Oliveira)

Abril com Cheiro…





Faz hoje quarenta anos
Que Lisboa sentiu o cheiro
Dos cravos pela manhã
Dos capitães de Abril.
Valentes homens honrados
Fartos de tanta tirania
Para Lisboa marcharam
No silêncio da alegria.
Quatro gerações passaram
Desde esse tão belo dia
Recordamos com saudade
O fim da tirania.
Quarenta anos depois
Neste tempo de liberdade
Estamos acorrentados
A tanta austeridade.
Ressuscitaram fantasmas
Que dos cravos não querem saber
Muito menos dos Capitães
Que lentamente estão a morrer.
Dos cravos ficam espinhos
Do caule que nunca os teve
Apenas ficam as lembranças
Dos heróis do meu País.
Abril será sempre eterno
Com seus cravos a florir
Capitães que nunca esqueço
Liberdade até morrer.
(Gaspar Oliveira)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Verdadeiro Amor




Tu não vais perceber
Que eu me fui embora
Serei uma recordação
Que o tempo vai apagar
Dentro do teu coração.

Não vou deixar um bilhete
Com explicações
Apenas me vou embora
Pela madrugada fora

Talvez seja esta a forma
De eu te poder dizer
Que dentro do meu peito
Bate um coração
Que te vai amar até morrer.

Sabendo que não vou voltar
Levo comigo o teu sorriso
As lembranças do passado
Os beijos partilhados
Para toda a eternidade.

Talvez um dia
Nos voltamos a encontrar
Algures num sonho
Num outro mundo qualquer
Com ou sem asas
Voando em liberdade
Na busca do verdadeiro amor.
(Gaspar Oliveira)

terça-feira, 22 de abril de 2014

Cravos Vermelhos







Onde estão os cravos
Que traziam na lapela
Os homens da liberdade.

Estamos a regredir
Vamos voltar ao passado
Há fome neste País
Escolas encerradas.

Onde estão os cravos
Símbolo da união
Que fizeram rasgar sorrisos
Libertaram uma nação.

Que liberdade é esta
Que rouba o pão aos velhos
Afugenta os mais novos
Delapida um património
Amordaça uma cultura
Oferece carros de luxo.

Onde estão os cravos
Os sorrisos dos meninos
A alegria dos mais velhos
Os sonhos de jovens casais
Divididos por fronteiras.

Onde estão os cravos
Neste País de corruptos
Que sem a mínima dignidade
Cavam buracos profundos
Perante o olhar do mundo
Enterram os cravos da liberdade.

Murcham os cravos na lapela
Regados por lágrimas e ilusões
Neste país de lusitanos
Terra de Pessoa e de Camões
Fica apenas a saudade
Dos bravos capitães.
(Gaspar Oliveira)