quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Telas



Inalo o perfume
Que amena a tua pele
Deixando-me na loucura
Do desejo do teu mel.

O teu olhar cristalino
Os teus lábios de cetim
Cada curva do teu corpo
É um quadro de Dali.

Navego pelo teu corpo
Sem tu te aperceberes
Desnudo-te mentalmente
Caravaggio poderia eu ser.

Os teus seios são frutos silvestres
As tuas coxas ondas do mar
Se eu fosse o Courbet
O teu sexo iria pintar.

Perco-me no teu olhar
Dele, não consigo sair
Aguarelas de mil cores
Retratos do nosso amor.
(Gaspar Oliveira)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Palavras traiçoeiras




Há palavras proibidas
Que eu não posso dizer
São palavras traiçoeiras
Que alguém não ia entender.

Palavras simples
Com duplo significado
Podendo confundir
Mentes mais delicadas.

Mas que palavras são essas
Que guardo no meu coração
Apenas duas, vou escrever
São elas, Amor e Paixão.

O amor pode ser verdadeiro
Ou apenas passageiro
Há quem minta com este verbo
São os chamados aventureiros.

A paixão quando sincera
Chega mesmo a magoar
Corações que apenas querem
Perceber o verbo amar.

A palavra Amor é traiçoeira
Depende de quem a conjugar
Muitas vezes verdadeira
Que até nos faz delirar.

A paixão tem idas e voltas
Tal e qual as ondas do mar
Hoje estas, apaixonado
Amanhã estas a chorar.

Há palavras traiçoeiras
Podem crer que bem as há
Mas, traiçoeiro é quem as diz
Muitas vezes, a cantar.
(Gaspar Oliveira)


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Avô




O meu avô era cauteleiro
Vestia fato e gravata
Usava chapéu com chapa
Apregoava a sorte grande
Pelas ruas da cidade.


O meu avô era aposentado
Detestava ficar parado
Levantava-se ainda de madrugada
Para ver o sol a nascer
Junto ao mondego suspirava.

Sem saber ler e escrever
Era formado no bem dizer
Contava histórias ao anoitecer
Até que ele a sorrir dizia
Esta na hora de dormir
Que a noite escondeu o dia.

De lisboa veio um dia
Pés descalços, calças rasgadas
Ainda menino pois então
Veio parar a Coimbra
Cidade que sempre foi sua paixão.

Passou fome viu a miséria
Trabalhou como um escravo
Com o rosto coberto de farinha
Foi aprendiz de moleiro
Mais tarde foi vinhateiro
Soldado, aventureiro
Homem de grande imaginação.

O meu avô que tanto na vida sofreu
Na hora do seu adeus
Sentado na sua cama, sorriu
Fechou os olhos e dormiu
Num sono profundo, sem fim
O meu avô, ainda hoje vive em mim.
(Gaspar Oliveira)



Chuva



Acordei com o cantar da chuva
Que telintava na vidraça da minha janela
Cada gota, era uma nota musical
Numa melodia chamada vida.
Fui a varanda, abri os braços
Cumprimentando a mãe natureza
Inalei o cheiro da terra molhada
Saboreei o espirito da liberdade.
Água divina que cai do céu
Transportada por nuvens cinzentas
Que regam a terra dando-lhe vida
Não fosse a vida água divina.
(Gaspar Oliveira)

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Rua da alegria




Debruças-te para a vida
Sempre que abres a velha janela
Virada para a rua da alegria
Sorrindo dizes bom dia.
O teu rosto iluminado
Pelos raios que vêm de longe
Daquele sol que um dia tocas-te
Quando descansava nos lençóis do mar azul
E danças em perfeita harmonia
Como se este fosse o último dia
De tantos outros dias
Nesta que é a tua rua da alegria.
(Gaspar Oliveira)

Passado



Basta um olhar teu
Para aprisionar o meu coração
Fazer de mim o teu refém
Alimentando-me com os teus beijos.
Basta um olhar teu
Para que eu sucumba aos teus desejos
No afago do teu olhar nu
Soltam-se palavras silenciosas.
Basta um olhar teu
Para me fazer ressuscitar
De olhares opacos
Dos escombros do passado.
(Gaspar Oliveira)

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Translúcido




Vivo sozinho no meio de tanta gente
Que chego a imaginar que não estou só
Ainda ontem quando te vi sorrir
Reparei que era apenas uma sombra
Projectada na minha imaginação.

Ah dias atrás, corria-mos pelo campo
Tudo era verde com manchas de várias cores
Dizias tu, que eram flores
E eu acreditava só para te ver feliz.

Contavas-me a história da borboleta
Que tinhas asas translucidas
Para deixar passar as cores do arco-íris
E eu sorria olhando o espelho.

Dizias que as lágrimas eram gotas de orvalho
Expulsas pelo coração
Que os olhos eram apenas filtros
As mãos, a brisa que as secavam.

Quando falavas do mar, dizias que era imenso
Que nele se escondiam segredos
De marinheiros aventureiros
Que as sereias, um dia vieram buscar.

A noite quando para a lua sorrias
Descrevias cada estrela
Como se fossem pessoas felizes
Que cantavam e bailavam
Até o sol voltar a acordar.

Escondes-te por trás do espelho
Quando a lua adormece
E eu fico a sorrir olhando o sol a chegar
Com a certeza que esta noite
Tu, nos meus sonhos vais voltar
(Gaspar Oliveira)


Racionais



Decapitam pessoas
Maltratam crianças
Violam mulheres
Em nome de uma religião.
Fanáticos, para alguns
Heróis, para outros tantos
Covardes que tapam o rosto
Com mãos, manchadas de sangue.
Semeiam o terror
Como se fossem actores
Nem os mortos escapam
Nos cemitérios onde descansam.
De todos os animais
O ser humano racional
É a espécie mais barbara
Que neste planeta nasceu.
O leão caça para se alimentar
A hiena rouba para sobreviver
O homem nasce
Para destruir, pelo simples prazer.
Quem somos nós
Que não conseguimos conviver
Com a nossa própria espécie
Racionais, talvez um dia…
(Gaspar Oliveira)