sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Rei sem coroa


Ouvi contar uma história
Uma história de encantar
Na voz de um fadista
Num fado popular.

As guitarras a acompanhar
As violas tocam baixinho
Os ouvintes muito atentos
No adro da Santa Igreja

Esta Igreja em Alfama
Deste Santo padroeiro
Santo Estêvão é o seu nome
Pregador no mundo inteiro.

Fernando Maurício a cantar
Este fado popular
Na Igreja de santo Estêvão
Fez as senhoras chorar.

Fadista que foi fadista
Na rua do capelão
Com oito anos apenas
Cantou o fado com emoção.

Na taverna o Chico da severa
Todos ouviam com atenção
Um menino pequenino
Que tinha o fado no coração.

Este Rei sem coroa
Que em Lisboa morreu
Ainda hoje é recordado
Nos fados que escreveu.
(Gaspar Oliveira)

Indiferença




Falam, falam, falam
Muitas vezes, não dizem nada
Criticam, odeiam, sentem raiva
Da felicidade, do amor uns pelos outros
Não é inveja muitas vezes
Mas sim falta de amor, de amizades.

São pessoas fechadas em elas próprias
Gente mesquinha sem emoções
Gente que não sabe sorrir
Gente que chora para dar nas vistas
Vítimas dos seus próprios rancores.

São cactos num jardim de rosas
Abutres no meio de canários
Tubarões famintos, predadores
Errantes das sombras
Corações de pedra
Almas sem rumo
Neste mundo de mortais
Talvez a espera de serem felizes
Vendo os outros a chorar.
(Gaspar Oliveira)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Metamorfose




Um ovo eclodiu
Uma lagartixa saiu
Comeu, comeu, comeu
Um casulo teceu
Dormiu profundamente
Dias depois o casulo rompeu
Abriu suas asas multicolores
Num jardim de muitas cores
Voou, ao encontro do seu amor
De flor em flor, polinizou
Do néctar se alimentou
Na vida curta da borboleta
Apenas o amor sobreviveu.
(Gaspar Oliveira)

Rabiscos




Sinto as mãos a tremer
Quando pego na caneta
Olhando a folha em branco
Sem saber o que fazer

São tantas as palavras
Que tenho para contar
Que só me saem rabiscos
Sem o teu bonito olhar

A noite é tão longa
Eu continuo acordado
Na folha, apenas um ponto
De uma lágrima tombada

Chega o amanhecer
Palavras que eram rabiscos
Deram vida a um poema
Com o título, o teu olhar.
(Gaspar Oliveira)

Ultima Dança



Sou sombra do passado
Neste presente sem brilho
Algures longe de ti
Já não consigo sorrir

Fica uma história para contar
Palavras por dizer
De momentos teus e meus
Que o tempo não vai esquecer

Seguimos o nosso caminho
Cada um com o seu destino
Almas gémeas separadas
Num filme que não tem fim

Dos sorrisos ficaram as lágrimas
Dos beijos as saudades
Olhares que se cruzaram
Num tempo que já passou

Numa dança imaginaria
Voltamos a dançar
Cada um com o seu par
Na distância dos olhares.
(Gaspar Oliveira)

domingo, 26 de janeiro de 2014

Passado no Presente





Antigamente éramos nós
Hoje apenas eu e tu
O que ficou de nos dois
No tempo do nosso amor
Naquele tempo de primavera
Em que sorrisos brotavam
No jardim do teu olhar.

Foram tantas as coisas que juntos fizemos
Que não tínhamos tempo para mais
As horas eram minutos
Os segundos evaporavam-se
Nos beijos que trocávamos

Aquele banco de madeira
Com o teu nome gravado
Naquele jardim a beira-rio
Onde folhas pairavam
Mais um beijo te roubava.

O passado é inútil no presente
Apenas ficaram lembranças
Gravadas no coração
Que um dia o tempo vai apagar
Quando em pó me transformar
O vento as cinzas vai levar
Para sempre longe do teu olhar.
(Gaspar Oliveira)